A ex-juíza Luciana Bauer, que atuou na 17ª Vara Federal de Curitiba, testemunhou irregularidades da finada “lava jato” e afirmou que denunciou os abusos, foi ignorada, sofreu intimidações e depois abandonou o cargo.
Em entrevista à TV GGN na última terça-feira (22/4), ela contou ao jornalista Luís Nassif detalhes do que presenciou em relação aos procuradores e ao ex-juiz e hoje senador Sergio Moro (União-PR).
Após deixar a magistratura em 2022, Bauer passou a aconselhar o juiz Eduardo Appio, que ocupou o antigo posto de Moro por alguns meses em 2023. Foi ela quem teve a ideia de pedir ao Conselho Nacional de Justiça a correição extraordinária na 13ª Vara Federal de Curitiba e na 8ª Turma do Tribunal Regional Federal da 4ª Região, responsáveis pelos processos da “lava jato”.
Na entrevista, a ex-juíza contou que percebeu indícios de irregularidades durante um plantão judicial. O Superior Tribunal de Justiça havia determinado a soltura de Renato Duque, ex-diretor da Petrobras, mas Luciana Bauer notou que o Habeas Corpus estava parado, sem cumprimento, escondido dos plantonistas. A diretora da vara alegou que o então procurador Deltan Dallagnol estava prestes a oferecer uma denúncia.
Segundo o relato, a então juíza determinou o cumprimento da decisão do STJ, mas o documento elaborado por ela desapareceu do sistema. Luciana Bauer alertou que HCs estavam sendo ocultados e que diretoras apagavam documentos dos juízes plantonistas, mas nada foi apurado. Na sequência, passou a ser alvo de pressões, inclusive do próprio Moro.
“Desde o início, pedi que se investigasse não apenas os recursos financeiros, mas principalmente as possíveis falsidades ideológicas, como a ocultação de documentos. Habeas Corpus chegavam de todo o país e eram escondidos para manter pessoas presas e forçá-las a delatar. Esse era o esquema”, afirmou Bauer.
De acordo com ela, as diretoras sabiam tudo o que aconteceu, mas nunca foram ouvidas seriamente para uma investigação completa. “É preciso fazer uma devassa nos dados apagados do e-proc”, completou.
A ex-juíza disse que guardou provas das irregularidades da “lava jato” em seu computador no tribunal. Mas, certo dia, a equipe técnica da corte alegou algum problema e trocou o hardware. Quando ela ligou o computador novamente, os documentos haviam se perdido.
“É tão feio, tão obsceno, que todo o Poder Judiciário deveria pedir desculpas. Meu sonho é ver uma pedra dourada na entrada do TRF-4 dizendo: ‘Aqui conspurcamos a Constituição Federal. Aqui não se fez Justiça. Pedimos desculpas ao povo brasileiro por termos roubado uma eleição’. Mas isso não vai acontecer, porque quem está lá não quer reconhecer”, concluiu.
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